quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Trissomia 21: o cromossoma da diferença


        Era uma vez um casal muito feliz que decidiu aumentar a família e ter o seu primeiro filho. Era uma vez uma mulher que teve uma gravidez normal e com sucesso. Era uma vez uma maternidade onde pairava a tristeza. Era uma vez um sonho que acabou por morrer. Era uma vez uma criança que, por nascer com um cromossoma a mais, tornou-se diferente de todas as outras. E contra todas as previsões, era uma vez uma história feliz.

       Amélia vestia um roupão cor-de-rosa e vagueava pelos corredores, parecendo que as suas pernas não aguentavam o peso do corpo. Arrastou-se mais um bocado e entre a insistência dos soluços disse: “A minha filha é deficiente”. Já lá vão 13 anos, mas Amélia recorda o dia como se tudo tivesse acontecido ontem: “Depois da minha filha nascer fui para o quarto e passado algum tempo a pediatra veio fazer uma visita. Fixou-se muito na menina e foi através das mãos que percebeu que ela tinha alguma coisa de diferente”.

       A mãe, ainda muito jovem, estava sozinha no hospital no dia em que recebeu a notícia. “A pediatra olhou para mim e disse-me que a minha filha tinha Trissomia 21. Eu nem conhecia bem a doença porque, normalmente quando ouvia falar, pensava que nunca me iria acontecer a mim”, afirma Amélia.

Formação do embrião.
Fonte: http://www.projetodown.org.br/

        Para a psicóloga Ana Carvalho, “é preciso gerir as expectativas dos pais, porque estas são muito elevadas em relação aos filhos. As pessoas desejam que o seu filho seja o mais perfeito e que venha a ter as maiores facilidades no seu percurso. Por isso é natural que os pais vejam não só as limitaçoes para o impedimento de um futuro normal de uma criança como também as suas limitaçoes, enquanto pessoas, no cuidado a ter com estas crianças.”

       Mariana tem 13 anos e é, segundo os pais, “a menina mais acarinhada da família”. É pequena, gordinha e tem um ar bastante meigo. Confirma que o que mais gosta de fazer é “brincar com as barbies” e por isso tem que o fazer quase sempre sozinha, já que os outros meninos da idade dela não partilham os mesmos gostos. Cristina Pereira é a professora que costuma ir lá a casa auxiliar nos trabalhos escolares. Define-a como sendo “uma menina muito calma, muito feminina, bastante orgulhosa e persistente. Daí que em termos de autoridade ela não obedece a qualquer pessoa, independentemente dela gostar ou não. É muito educada, bastante sensível e tímida.” Mas a aprendizagem da Mariana foi rápida e hoje passa horas sentada com uma caneta e folhas na mão. Para a professora de ensino especial, “apesar do processo de aprendizagem ser bastante lento este foi um caso de sucesso entre todas as outras crianças. Em 1000 só duas têm tanto sucesso e uma delas é a Mariana.”

Diferença entre uma célula com 46 cromossomas
e com 47 cromossoma, que inclui o 21(trissomia 21)
Fonte: http://www.projetodown.org.br/

        E estas crianças nem sempre são fáceis de educar. A psicóloga sugere métodos que lhe parecem eficazes no controlo da educação: “Os pais devem corrigir devidamente as atitudes destas crianças. Devem tirar regalias: obrigar a deitar mais cedo, não deixar ver aquele desenho animado, não comer a sobremesa. Não é necessario bater, porque as crianças aprendem e percebem sem bater. Mas os pais também devem reforçar positivamente quando elas fazem alguma coisa bem.A especialista Ana Carvalho certifica que é importante estas crianças se manterem ocupadas: “Algumas CERCI vão-se mantendo funcionais porque vão recebendo cursos de formação profissional, como jardinagem, aprender a bordar. São cursos direccionados para os jovens com limitações socio-cognitivas, para que estes se sintam úteis. E quando as pessoas se sentem úteis, sentem-se realizadas e o que se pretende de qualquer pessoa é que seja feliz. É canalizar a possibilidade de desenvolver um ofício em que ganhe o suficiente para se autonomizar.”

       Contudo, para a psicóloga “ a nossa sociedade ainda não acolhe bem a diferença e ainda que nos movamos para valores de integração e de direitos humanos, nós ainda estamos muito aquém e ainda somos muito inflexíveis no que diz respeito à aceitação da diferença.”


Cariótipo de uma pessoa com Síndrome de Down causada por uma translocação Robertsoniana
Fonte: http://www.aprendaki.webcindario.com/textos/citologia6.htm

       E todos os dias são conquistas nas famílias onde existem estas crianças especiais. A psicóloga assegura que “é através de pequenos acontecimentos que se começam a conquistar grandes coisas. Se hoje deixamos a criança a 200 metros da escola e conseguimos vê-la ao longe até entrar no portão, amanhã deixamo-la mais longe e assim sucessivamente, até ela ir a pé para a escola.Amélia garante que, com a Mariana, aprendeu a olhar para a vida de outra forma e que depois de ela nascer acabou por dar valor a pequenas coisas que ela vai fazendo.
       Apresentamos abaixo alguns gráficos com dados estatísticos no que se refere aos tipos de deficiência que podemos encontrar e à relevância que assume no país, em comparação com o total de residentes. Neste sentido, apuramos a percentagem de pessoas que sofre de deficiência mental devido à anomalia genética, Trissomia 21 (21,12%).  Expomos também a probabilidade de nascimentos de bebés com Trissomia 21 de acordo com a idade materna, assim como alertamos para a percentagem concreta de pessoas portuguesas que  são portadoras do Síndrome de Down.


       Devido aos avanços da medicina, que hoje trata os problemas médicos associados à Síndrome de Down com relativa facilidade, a expectativa de vida destas pessoas vem aumentando incrivelmente nos últimos anos. Para se ter uma ideia, enquanto em 1947 a expectativa de vida era entre 12 e 15 anos, em 1989, subiu para 50 anos. Atualmente, é cada vez mais comum pessoas com síndrome de Down chegarem aos 60, 70 anos, ou seja, uma expectativa de vida muito parecida com a da população em geral. Em 2007 faleceu em Anápolis, Goiás, a pessoa com Síndrome de Down mais velha do mundo, Dilmar Teixeira, com 74 anos.

Dilmar Teixeira.
Fonte: revista online "Visa"

       A Trissomia 21 é a deficiência mais comum ao nível genético, atingindo um em cada 600 nascimentos, aproximadamente. Estima-se que, em Portugal, haverão aproximadamente 12 mil a 15 mil cidadãos a sofrer com este síndrome. Entre 150 e 180 crianças nascem todos os anos com esta complicação no cromossoma 21. As características dos portadores estão agrupadas na imagem abaixo:

 

Características do Síndrome de Down.
Fonte: www.portalsaofrancisco.com.br

      Isabel e Mariana são duas meninas afectadas por esta realidade. O cromossoma 21 mudou os seus destinos e transformou as suas vidas. Tornou-as diferentes. Diferentes, mas normais. São crianças activas, que sonham, riem, choram, brincam. São crianças independentes, comunicativas, que frequentam a escola pública, interagem com outras crianças sem qualquer problema e têm um desenvolvimento intelectual muito satisfatório. São a prova viva de que, com os estímulos certos, são capazes de ser uma mais valia para a sociedade em que estão inseridas.




       São capazes de realizar qualquer tipo de tarefa, tal como Isabel nos mostra neste primeiro vídeo. No segundo, Mariana alerta para o drama da exclusão social, contando o que sente quando os meninos da sua escola não querem brincar com ela.

       É um facto que as crianças portadoras de Trissomia 21 tem algumas dificuldades de integração social, nomeadamente quando falamos da escola. Nos intervalos, por exemplo, são normalmente deixadas à margem das brincadeiras e jogos que as outras crianças fazem. Contudo, quando chegam ao seio familiar, o dinamismo e boa-disposição que espalham pela casa não faz ninguém ficar indiferente e, apesar de terem um cromossoma a mais, Mariana e Isabel, comportam-se como crianças perfeitamente normais. Dançam, cantam e são felizes!


      Há também momentos que o quarto serve de refúgio. Para estar sozinhos, para imaginar ou esquecer um dia menos bom! No slide seguinte mostramos algumas imagens de crianças com Trissomia 21, não só em momentos em que se encontram mais isoladas, mas também em interacção com outras crianças e a executar algumas tarefas que mostram a capacidade de aprendizagem e de evolução como outras crianças sem qualquer anomalia física ou mental.  






Estas imagens são um exemplo de que o estímulo das capacidades mentais das crianças portadoras do Síndrome de Down podem trazer resultados significativos e determinantes para o sucesso da inserção destas crianças na sociedade. O facto de se sentirem integradas e parte da comunidade vai resultar numa auto-confiança e dinâmica que lhes pode garantir o sucesso no futuro.  

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Eleições para a AAUM 2010/2011

Eram três as listas candidatas à AAUM. Três candidatos e três programas diferentes. O objectivo era comum: defender os estudantes.

Luís Rodrigues é estudante do segundo ano de mestrado de Ciências da Comunicação e já liderou, durante o ano passado, a AAUM. Este ano apresentou novamente candidatura e, com 88,7% dos votos, a lista A foi novamente a vencedora. É então o actual presidente da Associação Académica e garante que, com uma renovação de mais de metade da equipa, acredita que vai responder “às preocupações dos estudantes”. Para Luís Rodrigues o principal objectivo é “estar na linha da frente na defesa dos interesses e direitos dos estudantes”.

Pedro Castro era o candidato da lista B. Ficou em segundo lugar na corrida à direcção da AAUM. O estudante de Engenharia Civil sempre sublinhou que era apenas um mero porta-voz do movimento AGIR e, para ele, o mais importante era “lutar por todos os estudantes e não deixar ninguém de fora”. Pedro, durante toda a campanha, garantiu que o objectivo da lista B era “fazer uma luta feroz contra o governo” e “devolver o Enterro da Gata aos estudantes, não deixando que este fosse condicionado pelos bares que costumam marcam lá presença”.

A única mulher nesta disputa pelo cargo de presidente na Associação Académica era Francisca Goulart. Estuda Psicologia e, como representante do Elo Estudantil, sempre afirmou que os maiores problemas dos estudantes estavam relacionados com “as bolsas, o regime fundacional, as propinas elevadas e o processo de Bolonha”. Francisca garantiu que se ganhasse as eleições iria lutar “por um ensino gratuito, público, democrático e de qualidade”.


            A lista A foi, então, a grande vencedora nestas eleições. Os estudantes, apesar do elevado número de abstenção, escolheram Luís Rodrigues para o cargo de presidente da AAUM. Esperemos que esta equipa remodelada represente os estudantes da melhor forma e que, tal como referiram durante a campanha, lutem pelos interesses dos alunos minhotos.



         A corrida às urnas no dia 7 de Dezembro contou com poucos interessados. Por falta de divulgação ou por despreocupação, os alunos minhotos mostraram, já em dia de eleições, um desconhecimento dos cabeças-de-lista candidatos à AAUM. Ainda assim, sem terem em mente qualquer tópico das propostas dos representantes, foram vários os estudantes que afirmaram querer exercer o direito de voto. No entanto, os valores de abstenção que se verificaram no fim das votações mostraram que, efectivamente, as decisões políticas ainda não fazem parte dos interesses dos jovens e, por isso, não os fazem deslocar massivamente às urnas.  






            Os cartazes com a apresentação dos candidatos das três listas estão espalhados por vários cantos da Universidade do Minho (UM). Os representantes para a mesa da RGA (Reunião Geral dos Alunos) e para o Conselho Fiscal e Jurisdicional também têm a sua divulgação exposta em alguns placares. O que falta em dia de eleições é a participação dos alunos na decisão das caras que querem ver à frente dos órgãos políticos para a AAUM. Após o fecho das urnas e dos votos estarem contados, a abstenção correspondeu  a 86,76%, o que significa que em 17.252 inscritos na UM, apenas 2.297 alunos votaram, este ano.


           Os professores da Universidade do Minho não têm poder de decisão no que se refere às eleições para a AAUM. Contudo, não se inibem de afirmar que os alunos devem deslocar-se às urnas para fazer valer o seu direito de voto. Tanto para os docentes como para Letícia de Sousa, aluna de Ciências da Comunicação e a estudar a vertente de Relações Públicas e Publicidade, os alunos tiveram ao seu dispor uma campanha sobre as eleições que foi suficiente para ficarem esclarecidos acerca das propostas dos três candidatos e, assim, poderem exercer um voto consciente.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Guião de Reportagem

Repórteres: 

Ana Margarida Cardoso

Diana Fernandes

Sandra Freitas

Secção: Sociedade/Saúde



Tema: O tema da nossa reportagem ciberjornalística será sobre crianças com trissomia 21. O que pretendemos com este tema é mostrar ao público que as crianças portadoras desta deficiência também são capazes de executar muitas das actividades que outras crianças sem qualquer tipo de anomalia mental também fazem. O motivo da reportagem é, então, de certa forma, elucidar as pessoas sobre as capacidades destas crianças, que nem sempre são tão limitadas como a grande maioria das pessoas pensam ser. 

Enfoque: A ideia principal que pretendemos transmitir com esta reportagem é mostrar como é que as crianças com esta deficiência mental estão inseridas na sociedade, isto é, de que forma são vistas pelos colegas da escola e a capacidade de se relacionarem com as crianças sem qualquer deficiência. Para complementar a reportagem queremos ouvir a perspectiva dos pais de crianças com Trissomia 21, professores e também um médico para perceber a génese e o desenvolvimento da doença. 

Informações preliminares: 

1) Contextualizar o facto: O síndrome de Down já desde …. 

2) Personagens/Pontos de vista: São 5 as personagens que queremos incluir na nossa reportagem ciberjornalística. As crianças com tríssomia 21 serão, digamos, as personagens principais para percebermos quais actividades estas são capazes de fazer e como se relacionam com outras crianças sem anomalias mentais. No fundo são elas o motivo da nossa reportagem. Por outro lado, queremos ouvir crianças sem qualquer deficiência para entender como estas vêem as crianças com síndrome de Down, quais as formas de relacionamento que estas conseguem manter com elas. Neste sentido, também fará parte do leque de personagens professores que costumam lidar com crianças com algum tipo de deficiência, como forma de perceber ainda qual a evolução do processo de aprendizagem das mesmas. Porque sabemos que as crianças com o problema em questão traz alguns condicionamentos para os pais, também achamos pertinente que estes façam parte das personagens a utilizar. Outra das personagens será uma psicóloga, que dará uma reflexão sobre o comportamento das crianças com trissomia 21.Por fim, daremos voz a um médico para explicar o que é realmente o síndrome de Down e as consequências que este pode acarretar para as crianças portadoras do mesmo. 

3) Descrever como os media têm tratado o tema. Qual a perspectiva que vocês usarão e no que é que a reportagem vai diferenciar em relação ao que já foi publicado: Normalmente o que se verifica nas reportagens jornalísticas é o tema da Trissomia 21 ser abordado tendo em conta os encargos que estes podem trazer para os pais e para a sociedade. Também bastante recorrente é tratarem as crianças com síndrome de Down como pessoas vítimas de exclusão social e, portanto, com dificuldades de integração devido às suas limitações mentais. Assim sendo, a nossa reportagem será diferenciadora, na medida em que abordará o tema com um sentido mais positivo, pois destacaremos um conjunto de actividades que estas crianças conseguem desenvolver e que podem ser importantes tanto para o seu núcleo familiar como para a sociedade em geral. 

Pertinência da reportagem: Decidimos tomar como tema crianças com Trissomia 21, porque anteriormente já tínhamos usado este assunto para fazer um pequeno trabalho para uma disciplina de outra unidade curricular. Como não tivemos possibilidade de fazer uma reflexão alargada sobre este problema, consideramos que esta era uma boa oportunidade para o abordar de uma forma mais completa e interessante. Dado que temos espaço para incluir várias personagens, porque nos são facultados vários recursos interactivos para expor o nosso trabalho, este é um tema que se adequa bastante bem para uma reportagem ciberjornalística, uma vez que são várias as vertentes que podemos escolher para tratar. Além disto, este é também um bom tema para as pessoas reflectirem não só sobre as pessoas com esta deficiência em específico, mas também sobre outro tipo de problemas mentais e físicos que deixam muitas pessoas ficarem à margem da sociedade. 

Fontes: Crianças com trissomia 21, pais destas crianças e professores, psicóloga e um médico. 

Recursos Multimédia: 

1) Texto: este será utilizado para incluir os esclarecimentos dos pais sobre as condicionantes de ter uma filha com trissomia 21 e para relatar alguns dos seus comportamentos, assim como a reflexão da psicóloga sobre estas crianças e informações de um médico especialista; 

2) Áudio: será usado para expor a forma como as crianças sem qualquer deficiência vêem as crianças com trissomia 21; 

3) Vídeo: O vídeo é uma boa forma de apresentarmos algumas das actividades que estas crianças são capazes de concretizar como, por exemplo, pôr a mesa, desenhar, cantar, lavar a loiça, escrever, pintar, varrer o chão, entre outros trabalhos manuais. Serve de certa forma para elucidar as pessoas sobre as capacidades destas crianças que, frequentemente, são subestimadas pelas pessoas que não estão de nenhuma forma relacionadas com este tipo de crianças. Pretendemos também incluir uma curta-metragem sobre o relacionamento de crianças com Trissomia 21 com crianças sem qualquer tipo de anomalia; 

4) Imagens: Serão apresentadas imagens de crianças com Síndrome de Down na realização das actividades, em interacção com outras crianças ou apenas no seu ambiente natural.

5) Slideshare: gráficos com a evolução da taxa de natalidade e da esperança média de vida de crianças com síndrome de Down.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Entrevista a Francisco Louçã




Foto: Activismo de Sofa

Francisco Louçã é o líder do Bloco de Esquerda (BE) e um dos elementos da oposição mais activos. Nesta entrevista, Judite de Sousa questiona o homem forte dos Bloquistas sobre o caso PT-TVI, o caso Freeport (TagusPark), o caso dos submarinos e também sobre o estado do país em geral. Veja aqui a cobertura minuto-a-minuto desta Grande Entrevista da RTP1.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Crise chega aos casamentos católicos

                                              (Foto: Encontro Cristão de Convivência Conjugal)


Os casamentos não-católicos aumentaram cerca de 21% desde o início do milénio. Em 2009, mais de metade dos casamentos realizados em Portugal não foram de índole católica. Enquanto que a percentagem de casamentos católicos, em 2000, beirava os 65%, hoje em dia não vai além dos 43%.  (Ver gráficos abaixo)




A estudante Rosa Pereira, de 26 anos, engrossa a lista de jovens que opta por um casamento não religioso. Não indo mais além do que uma cerimónia civil, Rosa explica que preferiu fazer “uma cerimónia mais íntima, afastada das festas que estão normalmente associadas ao casamento católico”. A jovem, que está a terminar uma licenciatura em Ciências da Comunicação, aponta as dificuldades financeiras actuais como principal causa para a diminuição das cerimónias tradicionais. “Um casamento pela Igreja fica muito caro. Não foi por isso que não optei por uma celebração católica, mas claro que influencia a decisão”, explica Rosa. 


Narcisa Freitas, de 29 anos, escolheu usar véu e grinalda e celebrar um casamento católico. “Como fui educada na religião católica fui idealizando desde pequena casar pela igreja, mais pelo compromisso que representa do que propriamente pela festa em si”, afirma Narcisa. Quanto à diminuição dos casamentos católicos, a jovem professora concorda com Rosa e aponta ainda uma outra causa: “Para além de ser muito caro, hoje em dia as pessoas não estão dispostas a assumir um compromisso sério em frente a tanta gente”.

Para consultar mais dados sobre este tema, consulte:

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Futebol no Minho: Como ir de Espanha a Marrocos em 20 minutos


Gritos, emoções fortes, aplausos. Tochas, petardos, cadeiras pelo ar. Claques. Fala-se de algo mais que futebol: paixão. Amor ao clube, independentemente do onze.
           
São mais do que simples adeptosEm tronco nu, com faixas, entoando cânticos, eles são o 12º jogador. Os outros, aqueles que ainda estão no balneário a ouvir o sermão do mister, esperam a hora da partida. A claque é que já está no campo muito antes de soar o apito, e começa a fazer-se ouvir. Uma voz puxa a outra e a claque puxa o estádio. É a festa do futebol.
            
Estamos no Minho, onde o desporto traça fronteiras. A placa, evidente, é o único objecto que separa Guimarães, ou Espanha, e Braga, também conhecida como Marrocos. Mais do que uma sinalização geográfica, serve de veículo de mensagens entre os dois territórios: “Guimarães é merda”, escreve-se de um lado. “Braga é merda”, escreve-se do outro. Não importa a originalidade: a ideia é perceptível.



(Figura 1 - As rivalidades evidenciadas 
numa paragem de autocarros)

A rivalidade entre o Vitória de Guimarães e o Sporting de Braga não é indiferente a ninguém. “A tensão é um sentimento que, uma semana antes do dérbi, entra pela cidade e não tem como ficarmos indiferentes a isso”. Quem o diz é o guarda-redes do Vitória, Nilson. Para ele, os fanáticos da bola são um apoio fundamental a qualquer clube, apesar de “serem emoção e não razão. São muito emotivos e levam tudo ao extremo. Se tiverem que brigar e matar, eles são capazes de o fazer”.


Do outro lado, em Marrocos, o actual número um das redes nacionais e bracarenses, Eduardo, não hesita: “As claques são o espectáculo dentro do espectáculo”. O guarda-redes esboça um sorriso de quem recorda jogos fervorosos.


Continuamos no Minho, onde o futebol desperta amores e ódios intensos. É dia de jogo. As forças policiais circundam a cidade anfitriã e não deixam que as claques se cruzem. É o risco de uma batalha campal, onde elementos da Cidade-Berço e da Cidade dos Bispos se confrontam pela honra. Por vezes, há sangue. É o preço a pagar pelo amor à instituição.


Estamos em Guimarães. A sala tem vista para o complexo do Vitória. Os jogadores treinam e o ambiente é calmo. O presidente senta-se e franze o sobrolho: “Uii, as claques!”. Mesmo assistindo aos jogos lá do alto, Emílio Macedo deixa transparecer um certo desassossego: “As claques não são fáceis. Quando as coisas correm bem apoiam, quando correm menos bem, chamam nomes”.


O ambiente continua calmo, no outro “país”. A sala está iluminada pelo sol que finalmente apareceu. António Salvador, presidente do Sporting de Braga, afunda-se na cadeira, relaxado. O assunto não parece ser o seu favorito, mas não receia dizer que as claques funcionam como uma motivação aos jogadores. Porém, não hesita em criticar os comportamentos mais violentos dos seus membros: “Não é bonito que existam claques que vão para o estádio para criar conflitos com as claques dos outros clubes”. 


Com mais ou menos reticências, existe um consenso entre as direcções dos dois clubes: desde que haja civismo, os grupos organizados são necessários para animar o futebol. De forma quase paternal, Emílio Macedo defende que “as claques deveriam conviver antes dos jogos, com respeito. Era bonito! Há miúdos que andam no futebol desde os 4/5 anos e não é um ambiente saudável”.


Os líderes das claques minhotas não pensam da mesma forma. Bracara Legion e White Angels são velhas conhecidas, mas não amigas. O amor por um símbolo é comum; o branco das camisolas também. Mas as semelhanças acabam por aqui. Não se deixem enganar: o ódio existe e veio para ficar.


“Paulinho” tem 24 anos e é o homem forte da Bracara Legion. Para ele, a rivalidade com o Guimarães é, sobretudo, necessária. É antiga e deve ser estimada como uma página da história minhota. O clube é o seu orgulho e é por ele que vibra e grita. Fala da violência associada às claques: “Há pessoas que têm a maneira de extravasar o fanatismo partindo tudo; mas eu sou contra e nunca fiz isso”. O líder não esconde que “por vezes, nem tudo corre bem. Há espaço para melhorar”.


Com um olhar sempre atento, “Paulinho” (como é conhecido entre as claques) lamenta a ideia negativa criada pelos média em torno dos grupos de adeptos: “Há claques boas e claques más. E, por vezes, por uns pagam outros…”. Amizades entre membros dos White Angels e a Bracara Legion? A resposta é rápida como um relâmpago: “Não! É impensável!”, afirma, levemente repugnado com a ideia.


Não é o único. Dois jovens adornados com símbolos vitorianos conversam na sede dos White Angels, na cidade onde nasceu Portugal. Hélder, de 22 anos, usa um anel com a designação “VITÓRIA” e Ricardo, 27 anos, um cachecol vitoriano. São os responsáveis pela claque e, tal como Paulo, rejeitam qualquer tipo de convívio com adeptos bracarenses: “Se eu descubro que alguém com quem travei amizade é do Braga, coço-me todo!”, diz Hélder, com um leve arrepio. Ricardo ri e concorda. “Não consigo ir a Braga. Só vou lá ver o Vitória. É uma cidade que não interessa…”, completa.


A temperatura na sede dos White parece ser elevada. Ao contrário de “Paulinho”, que diz ser contra a política da Bracara pressionar os jogadores em momentos difíceis com palavrões e assobios, Hélder e Ricardo têm outra convicção: “Pressão? É logo! Quando levamos um festival de bola, entramos pelo estádio dentro. A responsabilidade deles aumenta!”. O tom é natural. Não há espaço para facilitismo. Para os White, “é para trabalhar e ganhar!”, exclamam.


NOTA: Esta reportagem foi feita no âmbito da Unidade Curricular de Imprensa, não sendo, por isso, ciberjonalística.